artigos / atividades de Ariel Milton

Milton, A. (2021). Luto e Crescimento Pós-Traumático. In S. Gabriel, M. Paulino & T. Baptista (Eds.), Manual de Intervenção Psicológica no Luto (pp.305-328). Lisboa: Pactor

Manual de Intervenção Psicológica - Luto e Crescimento Pós-traumático (Cap.16, Ariel Milton)

Quando as pessoas perdem alguém significativo, principalmente devido a atos violentos, correm um risco acrescido de virem a desenvolver reações crónicas de luto. Fenomenologia, sintomas, necessidades clínicas e fatores de risco associados à perda traumática, e as influências combinadas entre perda e exposição ao trauma não têm vindo a ser estudadas de forma sistemática.

Neste capítulo relembramos a complexa interação entre trauma, perda de forma traumática e luto traumático, conceitos que contrastam com a concetualização tradicional de stress pós-traumático. O luto traumático surge como uma dificuldade acrescida na recuperação, mantendo a pessoa sintomas característicos de uma perturbação relacionada com um trauma e um stressor. A experiência traumática também pode tornar-se num ponto de partida para uma reorganização de vida com reorientação de valores, opções e objetivos, no sentido do crescimento e do amadurecimento pessoal...

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TRAUMA só PSICOLÓGICO, será?!

O ritmo imparável da atualidade pode ser esmagador. Todos os dias somos confrontados, direta ou indiretamente, com eventos traumáticos como terrorismo, guerra, abuso sexual, violação, acidentes de viação ou aéreos, desastres naturais, homicídios, assaltos violentos ou agressões graves. Os mais jovens crescem num contexto generalizado que pode ser tido como ameaçador e os mais idosos podem encontrar dificuldade em adaptar-se às recentes mudanças. Nem mesmo o mais distraído se livra de conhecer o trauma. É uma inevitabilidade!

“ 75% dos portugueses irão experimentar um evento traumático ao longo da vida e 43,5% a mais do que um ” (Albuquerque, A., 2003).

Uma minoria das pessoas expostas a um evento traumático (7,8%) pode vir a desenvolver uma síndrome chamada de Perturbação de Stress Pós-traumático (PSPT). Após o trauma a pessoa pode começar a ter memórias perturbadoras e repetidas, pensamentos ou imagens intrusivas do evento traumático; ter sonhos perturbados e repetidos dessa experiência; sentir-se a agir ou a sentir como se essa experiência estivesse a acontecer de novo; ter reações físicas (por exemplo sentir o coração a bater mais intensamente, dificuldade para respirar, transpirar); pode começar a evitar pensar ou falar sobre essa experiência ou atividades e locais a ela relacionados; sentir culpa persistente e distorcida de si mesmo ou dos outros; desapego às pessoas; incapacidade para experimentar emoções positivas; irritabilidade fácil; comportamento imprudente ou destrutivo; dificuldade de concentração; hipervigilância; respostas em sobressalto; ou perturbações do sono. Para efeitos de diagnóstico, estas respostas são significativas e mantém-se após um mês do evento traumático.

“E sabemos que um trauma psicológico impacta a vítima no seu espírito, na alma, na mente, nas emoções, nas memórias e no corpo.”

Em todas as situações que a pessoa é colocada perante uma situação à qual não consegue dar uma resposta imediata e libertadora, gera-se um estado de desarmonia interna (tensão/stress) e uma nova dinâmica nos mecanismos homeostáticos. Durante, por exemplo, um acidente de viação grave, numa situação de assalto, sequestro ou de violação, a pessoa experimenta níveis elevados de ansiedade e stress e pode perder o controlo físico e psicológico da situação, podendo alterar os padrões normais da neuroquímica, estabelecendo novas redes neuronais, novas ramificações dendríticas e novas conexões sinápticas. A repercussão é sentida não apenas na estrutura neural, na amígdala (coração emocional, aquisição das respostas de medo), hipocampo (memória declarativa e de longo prazo) e córtex pré-frontal (regulação da resposta emocional e controlo inibitório da amígdala), mas também reproduz efeitos funcionais, nas cognições formadas a partir do evento traumático, nas suas impressões afetivas, comportamentos e nas reações fisiológicas. No caso do trauma ser por exemplo um abuso sexual quando a pessoa ainda é jovem, a forma como “vive” diariamente o evento ditará o seu futuro e pode ter consequências na sua saúde mental a longo prazo, na medida em que, a partir de então, a tentativa de o “esconder” na memória influenciará os seus pensamentos, sentimentos e comportamentos futuros.

A PSPT pode ser entendida como um tipo de medo aprendido, uma falha no processo de recuperação da pessoa.

A PSPT não se trata com fármacos! É muito frequente encontrarmos na nossa prática clínica pessoas em sofrimento com sintomas de PSPT, que tomam medicação “para o efeito” há anos. Fazem consultas de seguimento no seu médico de família, de longe a longe e ao longo de vinte minutos de consulta, para regular a medicação e são sujeitos às tentativas de intervenção psicoterapêutica por profissionais, que não estão habilitados nesta dimensão específica. Infelizmente, a psicologia intuitiva leva muitas vezes à leviandade do ato psicológico (ato praticado por psicólogos) e não é raro encontrar outros profissionais de saúde a dirigir-se ao paciente com um “eu também sou psicólogo”, confundindo o saber convencional com o saber técnico. O problema da pessoa mantém-se, pois não é tratado na sua origem!

Estimados médicos, perante um quadro de PSPT, considerem a intervenção psicológica, realizada por psicólogos, antes de prescrever!

A resolução efetiva do trauma só poderá começar a ocorrer quando a pessoa com PSPT aceite integrar a nova informação da rede de medo nas estruturas da memória já existentes, de forma a que a perceção da ameaça coincida com a ameaça real. E para isto acontecer é preciso uma intervenção psicológica estruturada, realizada por um Psicólogo(a).

Em pessoas com PSPT há uma sobrevalorização da ameaça, que diminui através da exposição imaginária gradual e reiterada à recordação do evento traumático, no ambiente seguro e controlado do consultório, ou através de atividades programadas de exposição in vivo, fora do consultório. Para se verificarem resultados eficazes a pessoa deve estar disponível para desafiar as suas memórias traumáticas e sentir as emoções associadas. Algo que se revela difícil quando a pessoa está sob o efeito da medicação, camuflando o problema. A pessoa acredita estar tratada, e não é assim.

“Tanto a psicoterapia como a medicação são eficazes no tratamento da PSPT, mas a psicoterapia é mais eficaz.” (Watts et al., 2013)

A PSPT é uma das condições de saúde mental mais tratáveis. A medicação é desaconselhada pelos guidelines mais recentes como intervenção terapêutica no primeiro mês após o trauma, até para permitir ao paciente beneficiar da tristeza e ruminação adaptativa, e desenvolver recursos próprios. Os mesmos guidelines recomendam como tratamento de primeira linha para a PSPT a abordagem psicológica com Terapias Cognitivo-comportamentais (TCC), se outro mal maior não existir, que podem ser providenciadas em sessões individuais ou de grupo. Os estudos têm demonstrado de forma consistente que as TCC, especialmente aquelas que se focam no trauma como a Terapia de Exposição Prolongada e Terapia de Processamento Cognitivo, são eficazes no tratamento da PSPT. Por vezes, estas duas abordagens (Psicoterapia/Fármacos) complementam-se.

Esta e outras perturbações na saúde mental podem ser melhor tratadas e minimizadas no seu efeito com uma intervenção psicológica especializada, atempada e direcionada ao problema de base. Por outro lado, ao intervirmos nos quadros PSPT de forma precoce, estamos não só a poupar sofrimento, como conseguimos tratar melhor toda a parte sintomática que está associada, e estamos também a diminuir a relação custo-saúde, associada ao tratamento farmacológico e dos sistemas de saúde, e a melhorar as relações familiares e sociais.

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

(artigo de opinião, 15fev22)

COMPREENDER A PERTURBAÇÃO DE STRESS PÓS-TRAUMÁTICO, A DOENÇA SILENCIOSA.

Ian Long, um jovem de 28 anos que serviu no Afeganistão, um ex “Marine” do exército dos EUA, foi o autor dos disparos que provocaram a morte a 12 pessoas na passada noite de quarta-feira (07nov) num bar no sul da Califórnia. Segundo fontes oficiais, o fuzileiro naval estava a agir de forma “um tanto irada e irracional”. Ian Long tinha uma dura mensagem na ponta da arma “Na guerra ensinam a matar, não ensinam é a continuar a viver!”


Muitos militares americanos que regressaram do Afeganistão foram diagnosticados com Perturbação de Stress Pós-Traumático (60.000), mas poucos procuram ajuda, por medo do estigma social, culpa ou vergonha. Regressam com vida, mas trazem morta a alma.


Por terras lusas, a nossa guerra do ultramar (1961 a 1974) nos teatros de operações da Índia, Angola, Guiné e Moçambique, envolveu cerca de um 800.000 militares (homens e mulheres) dos quais 10.000 foram mortos e cerca de 30.000 ficaram feridos. Atualmente acredita-se existirem cerca de 140.000 veteranos com problemas psicológicos/psiquiátricos, estimando-se que 40.000 ex-combatentes possam ser portadores de uma Perturbação de Stress Pós-Traumático (Albuquerque et al., 2003). Falamos de Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT) quando as consequências psicológicas de um evento traumático se prolongam no tempo, mais do que um mês, podendo no entanto haver um início retardado (dias, meses ou anos).


Num estado de guerra, a quebra dos imperativos de lei resultam na banalização da violência dirigida ao outro e da morte, o que afeta diretamente o limite das ações que sustentam ou destroem o laço entre os povos. Neste cenário tão adverso, a experiência traumática inunda o aparelho psíquico, num excesso pulsional inassimilável, e deixa o sujeito submergido no trauma, na neurose, sem condições de simbolização, refém da repetição compulsiva do acontecimento danoso.


As características das operações militares e dos teatros de operações como Bósnia, Angola, Guiné, Iraque, Afeganistão, e mais recentemente a República Centro Africana como a dificuldade de circunscrever as linhas amigas/inimigas, guerra de guerrilha, o uso de explosivos improvisados, snipers, dispositivos e as minas terrestres, a insegurança vivida, podem potenciar o impacto negativo da guerra sobre os militares.


APÓS UMA GUERRA, PARA ALGUNS MILITARES VOLTAR A CASA PODE SER A PARTE MAIS DIFÍCIL…

É adaptativo ter fortes reações emocionais quando a nossa vida está ameaçada, mas estas reações devem diminuir ou desaparecer quando a ameaça já não está presente. Ora, isso não ocorre em pessoas com PSPT!

Nos teatros de guerra os veteranos habituaram-se a viver subjugados por mecanismos neurofisiológicos de sobrevivência adaptativa que se localizam para lá do centro racional da mente. Através destes mecanismos, as “perceções de perigo” conduzem a “sentimentos de perigo e frustração”, que conduzem a “sentimentos de ira e agressividade” que se consumam em atos de violência que lhes permitiam viver num meio hostil, assumindo atitudes, posturas e sevícias com as quais muitas vezes não se identificam mais tarde.

Após o abandono da frente de combate, a habituação à violência afirma-se como mal adaptativa, da mesma forma que a hipervigilância (fundamental para a proteção e sobrevivência), o medo das multidões e as perturbações do sono tornam-se disfuncionais no momento em que o veterano regressa a casa. As dificuldades do veterano resultam assim de um compromisso deslocado. Quando em casa, dependendo do processo de adaptação, fazem uma interpretação errónea/descontextualizada das situações e reagem como se estivessem a viver um momento no passado, em guerra.

Os veteranos com PSPT mantêm altos níveis de reexperiência (sintomas intrusivos associados com o trauma), evitamento a estímulos associados ao trauma, e hiperativação (alterações de excitação e reatividade associada com o trauma). Assim a PSPT pode ser vista como uma falha na adaptação.


A exposição ao combate também pode aumentar o risco de provocar comportamentos exteriorizados como o comportamento antissocial, a agressão, atividades ilegais ou detenções e condenações nos veteranos de guerra (e militares no ativo). Os militares não são mais violentos do que os civis sem PSPT.


Uma nota: a guerra pode não levar necessariamente à psicopatologia e à PSPT. Em alguns casos fomentou o crescimento pessoal nos veteranos através duma maior maturidade pessoal a partir do desenvolvimento de uma personalidade mais resistente e madura, maior compreensão da vida, e da natureza humana; da tomada de consciência das próprias capacidades e força pessoal; o desenvolvimento da autodisciplina e a uma maior valorização da vida.


O que fazer?

Ian Long foi treinado para a violência e esteve em combate. Adaptou-se a uma nova realidade. Este ex-militar representa um dos efeitos indiretos da guerra e da inadequada estratégia de preparação e apoio pós guerra.

As consequências psíquicas do trauma não são lineares e variam de vítima para vítima em função de variáveis não controláveis como as individuais e as conjunturais, nomeadamente, as características da personalidade, a história psiquiátrica prévia, o tipo de trauma, intensidade e duração do evento traumático, entre muitas outras.

Contudo, outras variáveis podem ser controladas, antes, durante e depois do evento traumático, de modo a diminuir o seu impacto, nomeadamente, desenvolver esforços para reduzir o risco e reforçar os fatores de proteção diante das experiências individuais de trauma, ou depois de um trauma e antes do início dos sintomas, de forma a prevenir o desenvolvimento da perturbação.


Portanto, a primeira intervenção ocorre antes do trauma, é de nível preventivo e pertence às organizações e comunidade. Diz respeito à PREVENÇÃO primária, secundária e terciária, de modo a que os recursos das organizações e comunidade estejam preparados e dotados de meios para dar resposta adequada a situações de potencial trauma mental, da mesma forma que já está preparada para dar resposta adequada ao trauma físico.


Em ocupações de alto risco, para o qual a probabilidade de exposição ao trauma é alta (por exemplo agentes de autoridade, militares, bombeiros e técnicos de emergência médica), devem ser realizados esforços para aumentar a resiliência psicológica destes trabalhadores para evitar o efeito negativo do trauma emocional com treino aproximado ao real, simulacros, formação sobre a PSPT e seus efeitos, primeiros socorros psicológicos, implementação de programa de pares, etc.

Cerca de 75 % dos afetados recuperam sem necessidade de intervenção especializada e apenas 25 % das vítimas de trauma (não só trauma militar) experienciam algum tipo de persistência de perturbação psicológica. Na maior parte dos casos clínicos a perturbação é transitória. Contudo, noutros, é necessário manter vigilância e avaliação clínica naquelas em risco de evolução para formas mais persistentes de sofrimento e disfunção, apesar das intervenções anteriores. Nos casos mais resistentes às intervenções anteriores, os Cuidados Especializados de Saúde Mental, devem ser constituídos com profissionais treinados no método específico de tratamento, que devem conduzir à seleção de psicoterapia ou farmacoterapia baseada em evidências.


Tratamento

A PSPT atinge o espírito, a alma, a mente, as emoções, as memórias e o corpo. A PSPT é também uma doença do corpo, uma doença somática, passível de ser tratada também a este nível, que sustentam a necessidade de intervenções farmacológicas e não-farmacológicas.

Há bons tratamentos disponíveis para PSPT. Os dois principais tipos são a medicação e psicoterapia.

Não existem psicofármacos específicos para o tratamento da PSPT, e o uso de fármacos numa fase inicial da doença até pode ser contrapruducente (caso das benzodiazepinas, sobretudo nas fases mais precoces), mas medicação com ação antiadrenérgica pode ser eficaz para combater alguns sintomas associados ao circuito noradrenérgico (sistema de alarme).

As guidelines recomendam por unanimidade a terapia cognitiva comportamental (TCC) para o tratamento da PSPT em primeira linha, especialmente a terapia de exposição prolongada e terapia de processamento cognitivo, que têm demonstrado serem eficazes tratamentos para PSPT. A TCC é uma psicoterapia focada e de duração relativamente curta para uma vasta série de problemas psicológicos, incluindo a depressão, a ansiedade, a ira, o conflito conjugal, os medos e a dependência/abuso de substâncias. O foco da terapia é no modo como pensamos (as nossas cognições), nos comportamos (as nossas ações) e comunicamos hoje, mais do que nas nossas experiências passadas. Por vezes psicoterapia e medicação complementam-se.


Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

REAÇÕES COMUNS PÓS-TRAUMA

Depois de passarem por um trauma, os sobreviventes costumam dizer que o seu primeiro sentimento é o alívio de estarem vivos. Isto pode ser seguido de stress, medo e cólera. Os sobreviventes de trauma também podem pensar que são incapazes de parar de pensar sobre o que aconteceu. Muitos sobreviventes mostrarão um alto nível de excitação, o que os faz reagir fortemente aos sons e cenários em seu redor.

A maioria das pessoas tem algum tipo de reação de stress após um trauma. Ter tal reação não tem nada a ver com fraqueza pessoal. As reações de stress podem durar vários dias ou mesmo algumas semanas. Para a maioria das pessoas, se os sintomas surgirem, vão diminuir lentamente ao longo do tempo. Contudo, numa minoria de pessoas esses sintomas não regridem e pode instalar-se um quadro clínico pós-traumático.

Quais são as reações comuns ao trauma?

Geralmente, todos os tipos de sobreviventes de trauma experimentam reações de stress. Isto é verdadeiro para veteranos, crianças, e profissionais de socorro ao desastre ou de ajuda humanitária. Se conhecer e compreender o que está a acontecer quando está, ou alguém que conhece, a reagir a um evento traumático, pode ser menos temeroso e tornar-se mais capaz de lidar com a situação.

As reações a um trauma podem incluir:

  • Sentir-se desesperançado em relação ao futuro

  • Sentimento de desapego ou despreocupado com os outros

  • Ter problemas para se concentrar ou tomar decisões

  • Sentir-se nervoso e ficar assustado facilmente com ruídos súbitos

  • Estar “super alerta” ou vigilante em guarda

  • Ter sonhos perturbadores e memórias ou flashbacks

  • Ter problemas de trabalho ou escolares

Também pode experimentar mais reações físicas, tais como:

  • Estômago perturbado e dificuldade para comer

  • Problemas para dormir e sentir-se muito cansado

  • Coração pulsante, respiração rápida, sensação de nervosismo

  • Transpiração

  • Dor de cabeça severa se pensar no evento

  • Falta no exercício físico, dieta, sexo seguro, cuidados regulares de saúde

  • Excesso de tabaco, álcool, drogas, alimentos

  • Agravamento dos seus problemas médicos em curso

Pode ter mais problemas emocionais, tais como:

  • Sentir-se nervoso, desamparado, temeroso, triste

  • Sentir-se chocado, entorpecido e incapaz de sentir amor ou alegria

  • Evitar pessoas, lugares e coisas relacionadas ao evento

  • Estar irritado ou ter explosões de raiva

  • Tornar-se facilmente perturbado ou agitado

  • Culpar-se ou ter opiniões negativas de si mesmo ou do mundo

  • Desconfiança dos outros, entrando em conflitos, tendo excesso de controle

  • Ser retirado, sentir-se rejeitado ou abandonado

  • Perda de intimidade ou sensação de desprendimento

Recuperação às reações de stress

Volte-se para a sua família e amigos quando estiver pronto para conversar. Eles são a sua rede de suporte pessoal. A recuperação é um processo gradual e contínuo. Não acontece por meio de se ser repentinamente “curado” e isso não significa que vai esquecer o que aconteceu. A maioria das pessoas vai recuperar do trauma naturalmente. Se as suas reações ao stress estão a atrapalhar os seus relacionamentos, trabalho ou outras atividades importantes, pode querer conversar com um psicólogo ou médico. Estão disponíveis bons tratamentos.

Problemas comuns que podem ocorrer após um trauma

Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT) - é uma condição de doença mental que se pode desenvolver após ter experimentado um evento traumático, com risco de vida. Se tem PSPT, pode ter dificuldade em deixar de pensar, repetidamente, sobre o que aconteceu consigo. Pode tentar evitar pessoas, atividades ou locais que lembram o trauma. Pode sentir-se entorpecido. Por último, se tem PSPT, pode achar que tem dificuldade para relaxar. Pode assustar-se facilmente e pode sentir-se "em guarda" a maior parte do tempo.

Depressão - envolve estar a sentir-se em baixo, sem vitalidade, ou triste por mais dias do que o contrário. Se está deprimido, pode perder o interesse em atividades que costumavam ser agradáveis ou divertidas. Pode sentir-se sem energia e estar excessivamente cansado. Pode sentir-se desesperado ou pensar que as coisas nunca vão melhorar. A depressão é mais provável quando a pessoa teve perdas, como a morte de familiares queridos ou amigos próximos. Se está deprimido, às vezes pode pensar sobre ferir-se ou suicidar-se. Por esta razão, obter ajuda para a depressão é muito importante.

Autoculpa, culpa e vergonha. Às vezes, ao tentar entender um evento traumático, pode culpar-se de alguma forma. Pode pensar que é responsável pelas coisas más que aconteceram, ou por ter sobrevivido quando outros não. Pode sentir-se culpado pelo que fez ou não fez. Lembre-se, todos tendemos a ser os nossos piores críticos! Na maioria das vezes, essa culpa, vergonha ou autoculpa não se justifica.

Pensamentos autodestrutivos. Trauma e perda pessoal podem levar uma pessoa deprimida a pensar em magoar-se ou suicidar-se. Se pensa que alguém que conhece pode estar a sentir-se ou comportar-se de forma autodestrutiva, deve perguntar-lhe diretamente. Não colocará a ideia na sua cabeça! Se alguém pensa em suicidar-se, pode pedir apoio nas Linhas de Vida de Prevenção do Suicídio http://www.spsuicidologia.pt/sobre-o-suicidio/telefones-uteis . Também pode chamar um psicólogo, médico ou 112.

Cólera ou comportamento agressivo. O trauma pode estar conectado com a cólera “raiva” de muitas formas. Depois dum trauma, pode pensar que o que aconteceu consigo foi incorreto ou injusto. Pode não entender porque o evento aconteceu daquela forma, ou porque aconteceu consigo. Esses pensamentos podem resultar em cólera intensa. Embora a cólera seja uma emoção primária natural e adaptativa, sentimentos intensos de cólera e comportamento agressivos podem causar problemas com a família, amigos ou colegas de trabalho. Se se tornar violento quando está colérico, com raiva, apenas agrava a situação. A violência pode levar ao ferimento de pessoas, e pode haver consequências legais.

Álcool / abuso de drogas/medicação. Beber, consumir drogas, auto medicar-se, ou tomar medicação não prescrita pelo médico, é uma forma comum e insalubre de lidar com eventos perturbadores. Pode beber demais ou usar medicamentos para adormecer e tentar lidar com pensamentos, sentimentos e memórias difíceis relacionados ao trauma. Enquanto o consumo do álcool, drogas ou medicação pode oferecer uma solução rápida, também pode levar a mais problemas. (Nenhum medicamento “cura” o trauma e, certamente, não o apagará da sua memória. Existem psicoterapias eficazes para lidar com o trauma.) Se alguém próximo começa a perder o controlo de beber, consumir drogas ou medicação, deve tentar encorajá-los a consultar um médico ou psicólogo.

Recuperação às reações de stress

Volte-se para a sua família e amigos quando estiver pronto para conversar. Eles são a sua rede de suporte pessoal. A recuperação é um processo gradual e contínuo. Não se é repentinamente “curado”, nem tratamento significa que vai esquecer o que aconteceu. A maioria das pessoas vai recuperar do trauma naturalmente. Se as suas reações ao stress estão a atrapalhar os seus relacionamentos, trabalho ou outras atividades importantes, pode querer conversar com um psicólogo ou médico. Estão disponíveis bons tratamentos.

Procure ajuda especializada em PTSD Center!

Ariel Milton

Founder & CEO PTSD Center

O que é PSPT?

A perturbação de stress pós-traumático (PSPT) é uma psicopatologia que se desenvolve como resposta a um evento traumático, real ou imaginário de significado emocional suficiente para desencadear uma cascata de eventos psicológicos e neurobiológicos relacionados. O indivíduo envolvido por exemplo num acidente de viação ou numa situação de assalto, sequestro ou de violação, pode perder o controlo físico e psicológico da situação, experimentando níveis muito elevados de ansiedade, alterando os padrões normais da neuroquímica, e, por conseguinte, das cognições, dos afetos e dos comportamentos.

No cérebro humano, as alterações decorrentes do trauma nada mais são do que uma tentativa de resposta adaptativa à nova ordem imposta por eventos que desestruturam os Esquemas cognitivos (conjunto de crenças, regras e pressupostos que regem o nosso modo de ver e interpretar o mundo, e a nós mesmos). A repercussão é sentida não apenas na estrutura neural, mas também tem efeitos funcionais, nas cognições formadas a partir do evento traumático, nas impressões afetivas, nos comportamentos e reações fisiológicas.

QUE SINTOMAS PROVOCAM A PSPT?

– Reexperiência – memórias perturbadoras e repetidas, pensamentos ou imagens intrusivas da experiência stressante; sonhos perturbados e repetidos dessa experiência; sentir-se a agir ou a sentir como se essa experiência estivesse a acontecer de novo; ter reações físicas (por exemplo sentir o coração a bater mais intensamente, dificuldade para respirar, transpirar…;

– Evitamento – evitar pensar ou falar sobre a experiência stressante do passado ou atividades e locais a ela relacionados…;

– Cognições negativas e humor – culpa persistente e distorcida de si mesmo ou dos outros; estado emocional negativo persistente; desapego às pessoas; incapacidade para experimentar emoções positivas…;

– Hiperativação – irritabilidade fácil; comportamento imprudente ou destrutivo; dificuldade de concentração; hipervigilância; respostas em sobressalto; perturbações do sono….

COMO LIDAR COM A PSPT?

Quando os “sobreviventes” empreendem uma atitude ativa para resolver as suas reações de stress, são colocados numa posição de poder. O enfrentar ativamente o trauma ajuda a pessoa traumatizada a sentir-se menos impotente.

HÁ BONS TRATAMENTOS DISPONÍVEIS PARA PSPT!

A PSPT é uma das condições de saúde mental mais tratáveis. Os dois principais tipos de tratamentos são a psicoterapia e a medicação. Às vezes as pessoas combinam psicoterapia e medicação. As guidelines recomendam como tratamento de primeira linha para PSPT a Terapia cognitivo-comportamental (TCC).

A TCC é uma classe mais ampla de intervenções que inclui ambos os tipos cognitivos e comportamentais de competências e os estudos têm demonstrado de forma consistente que as TCC, especialmente as terapias que tem foco no trauma como a Terapia de Exposição Prolongada (TEP) e a Terapia de Processamento Cognitivo (TPC), são eficazes no tratamento da PSPT.

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

TRAUMA E CRESCIMENTO PÓS-TRAUMÁTICO

Percursos clínicos pós-trauma

A duração de uma reação de luto parece depender da forma, mais ou menos bem-sucedida, como a pessoa trabalha o luto. Nomeadamente, emancipando-se do laço afetivo à pessoa perdida, reajustando-se novamente ao mesmo ambiente que antes partilhavam, e através do estabelecimento de novas relações interpessoais afetivas. Um dos grandes obstáculos a este trabalho individual parece ser o facto de muitas pessoas enlutadas tentarem evitar a necessária expressão das suas emoções e sentimentos. Um tema central dos desafios de vida, incluindo o luto, é sua natureza sísmica (Tedeschi, 2011). Assim como as catástrofes naturais podem afetar o ambiente físico, os eventos que representam grandes crises de vida são aqueles que abalam, desafiam ou às vezes destroem a forma como a pessoa compreende o seu lugar no mundo. Quando este abalo dos fundamentos dos pressupostos individuais de mundo atingem um limiar suficientemente catastrófico, pode considerar-se que o indivíduo experimenta um evento traumático.

Cada indivíduo reage de forma diferente a eventos stressantes, com base nas suas características biológicas e psicológicas, na história social e sistemas de apoio, bem como na sua, uma combinação exata entre momento e circunstâncias contextuais dos eventos (Bowman, 1997; Julian et al., 2009). Portanto, eventos ou experiências traumáticas para uma pessoa podem não ser traumáticas para outra pessoa, ou podem não ser traumáticos para a mesma pessoa se o evento ou a experiência ocorrer numa forma, momento ou contexto diferente, anterior ou subsequentemente. Na consideração do percurso clínico pós-traumático não se pode esquecer a natural atenuação das alterações com o aumento da distância temporal ao evento traumático. Existe uma curva de ajustamento aos eventos traumáticos em função do tempo decorrido desde o evento que aponta para uma normalização a médio/longo prazo (Fig.1).

Figura 1 – curva de ajustamento a eventos traumáticos.

Contudo, é possível que ocorram flutuações neste processo de recuperação, nomeadamente, nas fases de lua-de-mel quando a vítima/enlutado recebe todo o amparo e apoio, e nas fases de desencanto e desamparo quando se avança para a sua autonomização.

O impacto dos stressores traumáticos incluem uma variedade de mudanças que ocorrem no trajeto de vida de uma pessoa com o passar do tempo (Fig. 2), incluindo também trajetórias positivas que foram descritas como “resistência” “resiliência”, “recuperação” e “crescimento pós-traumático” (Julian et al., 2009). Podemos distinguir os “resistentes” como aqueles que têm as reações menos debilitantes porque se alteram menos perante o evento traumático, sendo capazes de manter a integridade da sua vida mental após uma agressão psicológica. Podemos ainda distinguir os “resilientes” como aqueles que têm maior capacidade de adaptação e recuperação, isto é, a capacidade de restabelecer o seu equilíbrio após este ter sido rompido. Mas tanto uns como outros estão condicionados por fatores de risco ou fatores protetores. Portanto, nem sempre um trauma psicológico causa doença, e nem todas as vítimas de trauma necessitam de intervenção.

Figura 2 – Trajetórias de adaptação após eventos stressantes ou traumáticos da vida.


Trauma como elemento regenerador

A experiência traumática pode tornar-se num ponto de partida para uma reorganização de vida com reorientação de valores, opções e objetivos no sentido do crescimento e do amadurecimento pessoal. Existem duas noções aparentemente opostas sobre as ramificações do trauma. O primeiro, amplamente adotado, postula que o trauma tem um efeito patogénico. Os eventos traumáticos comprometem o equilíbrio físico e psicológico, dando origem a uma ampla gama de complicações de saúde física e mental. Um conjunto considerável de estudos empíricos dá suporte a esta visão, documentando o aumento das taxas de PSPT, depressão, ansiedade, somatização e alcoolismo (Kessler, Sonnega, Bromet, Hughes, & Nelson, 1995). Uma perspetiva alternativa propõe que o trauma tenha um efeito edificante. As pessoas podem desenvolver uma perspetiva positiva e experimentar mudanças psicológicas positivas na sequência de eventos traumáticos (Tedeschi & Calhoun, 2004).

Muitos sobreviventes de traumas descrevem a sensação de um crescimento psicológico, emocional ou espiritual como resultado de adversidades superadas como a guerra, violência familiar, abuso infantil e acidentes com risco de vida, desastres ou doenças. Os sobreviventes de trauma descreveram os seus sentimentos como se tivessem uma segunda oportunidade de vida e, como resultado, passaram a apreciar mais as oportunidades que têm nas suas vidas e relacionamentos. Experiências que antes pareciam banais, ou passavam despercebidas na pressa de cumprir prazos e seguir rotinas habituais, parecem ter um novo significado. O sobrevivente pode sentir-se capaz, ou até ser internamente compelido a “parar e cheirar as rosas” – isto é, prestar atenção e encontrar valor em todas as experiências. Alguns dizem que sentem um senso de clareza de visão e propósito, ou um novo conjunto de prioridades (Salter & Stallard, 2004). Em consonância com a psicologia positiva (Csikszentmihalyi & Seligman, 2000) os “sobreviventes” podem obter benefícios psicológicos, podendo resultar num crescimento positivo perante as dificuldades (Malhotra & Chebiyan, 2016).

O comum termo crescimento pós-traumático (PTG) sugerido e desenvolvido pelos autores Tedeschi e Calhoun (1995, 1996, 2004) significa que o indivíduo transformou-se em novas formas que vão para além do seu nível pré-traumático de funcionamento psicológico. Isto pode implicar um aumento de força pessoal, intimidade relacional, senso de espiritualidade, valorização da vida e possibilidades de vida. A conceitualização do PTG e a sua inclusão na intervenção psicológica baseiam-se em dois elementos: a crescente literatura sobre este fenómeno e as nossas experiências clínicas combinadas na prática de psicólogos clínicos (Tedeschi & Calhoun, 2013). A literatura empírica focada especificamente no PTG é bastante recente e ainda limitada em alguns aspetos. E, quando se baseia na experiência clínica, existe a possibilidade de um viés inadvertido. No entanto, como as nossas conceções de PTG têm dados para apoiá-los, este modo de pensar parece oferecer uma expansão útil da forma como as intervenções psicológicas são feitas em pessoas que lidam com o trauma e as suas consequências. Existem várias mudanças positivas que as pessoas experimentam na luta com stressores importantes refletidas no Inventário de Crescimento Pós-traumático (Tedeschi & Calhoun, 1996) como relacionamentos aprimorados, novas oportunidades de vida, uma maior apreciação pela vida, um maior senso de força pessoal, e desenvolvimento espiritual. Parece haver um paradoxo básico apreendido pelos sobreviventes de trauma que relatam estes aspetos do PTG, de que as suas perdas produziram ganhos.

Não menosprezando o impacto patogénico do trauma, recentemente um conjunto de estudos tem vindo a revelar, de forma consistente, o PTG relatado por sobreviventes após vários traumas físicos e psicológicos (Tedeschi & Calhoun, 2013). Como os resultados de trauma edificante e patogénico já foram documentados, uma questão imperativa é como eles se relacionam. Embora existam vários estudos sobre o tema, uma metanálise relatando 77 estudos (Helgeson, Reynolds, & Tomich, 2006), verificou que a relação entre PTG e distress ainda está mal definida. Um outro estudo longitudinal quis conhecer a interação entre PTG e PSPT examinando as suas direções bilaterais (Dekel, Solomon, & Ein-Dor, 2012) concluindo que o PTG é uma resposta ao distress e não o contrário, encontrando em indivíduos com PSPT níveis mais altos de PTG e mais vezes do que em indivíduos resilientes que não endossavam os sintomas de PSPT.

In Milton, A. (2021). Luto e Crescimento Pós-Traumático. In S. Gabriel, M. Paulino & T. Baptista (Eds.), Manual de Intervenção Psicológica no Luto (pp.305-328). Lisboa: Pactor

“7 MITOS” PARA A TOMADA DE DECISÕES DE CARREIRA

Vivemos num contexto socioeconómico complexo em que a mudança e a volatilidade dos conceitos adquiridos (sociais, políticos, económicos) terão necessariamente de se adaptar, sob pena de se tornarem obsoletos. O “emprego para toda a vida” e a “carreira da base até ao topo” tornaram-se duas falácias geradoras de grandes equívocos para os que acreditarem que será esse o rumo a seguir.

A única coisa em que podemos confiar é que o certo torna-se incerto e o improvável torna-se provável. O futuro não pode ser previsto, tem de ser criado.


Assim, relembramos algumas das ideias debilitantes “mitos” que muitas pessoas pensam e sentem na tomada de decisões de carreira:

  • BOLA DE CRISTAL” – “ se tiver um plano, tudo correrá melhor no futuro…”

As pessoas muito compostas, muito certinhas, esquematizadas, que tem tudo controlado!…acreditam com exatidão que tem um plano para o futuro, que é resultado nos testes vocacionais, ou outros.

Não raras vezes a sociedade, que está em constante mudança, “apresenta” outra realidade diferente daquela que planeou. As pessoas fazem projetos “descontextualizados” em termos espaciotemporais. Planeamos uma realidade no presente para um futuro incerto. Muitas vezes as pessoas têm de planear o futuro passo a passo…sem saber muito bem o resultado final! Muito frequentemente os estudantes são confrontados com uma escolha e pensam que vão definir o seu futuro irremediavelmente! Decisões prematuras e inadequadas poderão resultar em ansiedade e frustração associados ao “não sei o que vai acontecer”.

“Não tenho a certeza se quero fazer isto o resto da minha vida”; “Quero ter a certeza de que não tenho de mudar de curso no meio do ano e perder os meus créditos.”; “Acho que é melhor ter a certeza, pois estou a decidir para o resto da minha vida.”

Ideia irracional. “Devo estar absolutamente certo antes de decidir.”

Paradoxo criado. “Acredito que tenho que ter certeza antes de decidir, mas não há nenhuma forma de ter certeza, se eu não decidir primeiro.”

Ideia alternativa. “Posso não ter certeza, no entanto não significa que não possa fazer alguma coisa agora. Se decidir agora será uma oportunidade de obter informações da forma como decido, que será importante para mim nas decisões que farei no futuro.”

  • QUANDO É QUE TE VAIS DECIDIR?!

Este mito está relacionado com a ideia que uma carreira tem um momento certo para se decidir/iniciar (normalmente no final do secundário ou universidade). Muitas vezes decidir este “destino” causa muita ansiedade, pois um eventual engano seria CATASTRÓFICO! Ficando ENCURRALADO PARA O RESTO DA MINHA VIDA! A falácia básica inerente a este mito é que esquece completamente de reconhecer o desenvolvimento da carreira como um processo constituído por inúmeras decisões feitas ao longo da vida. Um exemplo do mito é encontrado em estudantes que entram num colégio privado ou faculdade, que acreditam ter tomado a decisão de se tornar um médico para sempre! Na realidade, eles apenas se comprometeram a um primeiro semestre e a um programa de reforço de formação.

“Ainda não decidi o que eu quero ser.”; “Preciso decidir uma carreira.” “Parece que todos os outros já decidiram e eu não.” “Acho que chegou a hora para finalmente decidir uma carreira.”

Ideia irracional. “Desenvolvimento de carreira envolve apenas uma decisão.”

Paradoxo criado. “Deveria decidir agora, mas não estou pronto para decidir. ”

Ideia alternativa. “Desenvolvimento de carreira envolve uma série de decisões, e não tenho que decidir tudo agora.“

  • DESISTENTES NUNCA GANHAM

A ideia associada a este mito é que uma vez que alguma coisa é iniciada devia ser obstinadamente perseguida até o amargo fim! Não há espaço para erros para estas pessoas singulares que aderem a tal crença. Muitas vezes os clientes têm grandes dificuldades em elaborar novos planos de carreira, porque sentem que falharam. O psicólogo pode ajudar os clientes a reconhecer a “mudança” não como fracasso, mas como uma reação esperada para o desenvolvimento pessoal e uma parte importante do ambiente dinâmico em que vivem. As rápidas mudanças tecnológicas das últimas duas décadas têm forçado as pessoas a analisar, para prever e planear a mudança. No entanto, muitos indivíduos ainda veem a mudança como sinónimo de desistir ou perder. Há, no entanto, uma nítida diferença entre desistir e mudar: Desistentes não têm nenhum plano; os que Mudam estão a integrar informações novas e diferentes experiências. É incongruente com a realidade ao acreditar que uma pessoa pode funcionar dentro de um ambiente em constante mudança sem mudar com esse ambiente.

“Preciso de escolher o curso certo porque não quero mudar depois de começar.”; “Sinto como se houvesse algo de errado comigo porque quero mudar.”; “Sinto que se começar isto, vou ter que terminar. Não é bom estar sempre a mudar…”

Ideia irracional. “Se mudar, é porque falhei.”

Paradoxo criado. “Não devo mudar, mas sou infeliz com o que estou a fazer. ”

Ideia alternativa. “É OK mudar, desde que me mova em direção a algo. Alterar, optar por algo diferente é normal e uma resposta adaptativa. ”

  • QUERO QUE TENHAS MELHOR DO QUE EU TIVE

Este mito também podia chamar-se “a felicidade é um fim”. O raciocínio básico é que há um conjunto estabelecido de regras que, se seguidas, levarão à vida feliz. Este mito também assume que cada nova geração deve conseguir mais do que a precedente. Os pais muitas vezes são responsáveis ​​por incutir nos jovens uma ênfase pouco realista sobre como obter o ensino superior, que porventura eles não tiveram, ou transmitir a ideia de que uma educação ou um bom trabalho é uma solução mágica para resolver os problemas da vida. Esta mentalidade superprotetora desvaloriza a importância da aprendizagem através da experiência. Outro resultado do mito é que os jovens muitas vezes tentam alcançar metas que podem ser incompatíveis com suas habilidades e interesses porque acreditam que a realização desses objetivos resultará em certa felicidade. Por outro lado, não atingir esses objetivos provocará como resultado a infelicidade.

“Para ser feliz, preciso de ir para a faculdade.”; “Se conseguir um bom emprego vou ser feliz.”; “A faculdade vai dar-me um bom trabalho.”; “Se conseguir descobrir o que quero fazer, então tudo vai correr bem.”

Ideia irracional. “Se conseguir fazer isto, então vou ser feliz.”

Paradoxo criado. “Fiz todas estas coisas, mas ainda não sou feliz. ”

Ideia alternativa. “A minha felicidade não precisa depender de cumprir metas sugeridas por outros. Preciso experimentar os meus próprios triunfos e cometer os meus próprios erros no estabelecimento de um padrão eficaz de viver.”

  • O TRABALHO É A MINHA VIDA

A crença de que o trabalho é o elemento central e mais importante da vida de uma pessoa é o tema básico deste mito. As implicações irracionais são numerosas: Primeiro, significa que o trabalho de um indivíduo deve ser intrinsecamente satisfatório para se viver de forma eficaz. Segundo, isso implica que todo o tempo disponível e energia devem ser gastos no trabalho. Terceiro, isso implica que aqueles que não ganham dinheiro, ex, uma dona de casa de casa/doméstica, o jovem, o aposentado, os desempregados, os deficientes são obrigados a ser infelizes! É um facto que na sociedade nem todos encontram um trabalho que é intrinsecamente satisfatório. Hands (1976) disse: “A questão não é o trabalho que eu deveria fazer, mas o que constitui uma boa vida e como vai o trabalho contribuir para isso” (p. 131). Esperemos que a necessidade humana se estenda para além do que é encontrado numa carreira. Necessidades importantes podem ser preenchidas fora dos limites de um determinado trabalho, mas muitas pessoas conceituam a carreira como um encapsular todas as suas necessidades principais.

“Sinto-me inútil quando não estou a trabalhar.”; “Não tenho tempo para fazer nada, apenas trabalho.”; “Estou interessado numa grande variedade de coisas, mas parece que não se consegue colocá-las todas juntas numa carreira. “

Ideia irracional. “O trabalho deve satisfazer todas as minhas necessidades “.

Paradoxo criado. “O trabalho deve satisfazer todas as minhas necessidades, mas trabalhos como estes não existem. ”

Ideia alternativa. “O trabalho é importante, mas não é tudo. Posso satisfazer parte das minhas necessidades de forma eficiente mesmo que o trabalho não me satisfaça completamente. ”

  • QUALQUER UM PODE SER PRESIDENTE

O sonho americano…com muito trabalho e persistência qualquer um pode torna-se no presidente dos Estados Unidos! exemplifica bem este mito. Simplesmente, o mito transmite a ideia que “podemos fazer o que quisermos, desde que estejamos dispostos a trabalhar muito”. A implicação é que, se não tiver sucesso então só tem que se esforçar ainda mais! E embora o trabalho “duro” é certamente importante, não é suficiente para garantir o sucesso. Determinação, por si só, não pode tomar o lugar de capacidade ou inteligência. Se a pessoa estiver convencida de que o fracasso é um resultado direto de não se ter esforçado o bastante, a pessoa pode começar novamente o mesmo ciclo impróprio de esforço. Este mito também oferece uma proteção do ego excelente quando o medo do fracasso está envolvido: enquanto nenhuma tentativa real é feita, nenhuma falha real pode ocorrer! Nas palavras do nosso estudante universitário “poderia ter tido boas notas, mas simplesmente não tentei.” A utilização deste mito protege o indivíduo de enfrentar mais arduamente o desafio e por vezes a dolorosa falha pessoal.

“Podemos parar de nos enganar ao acreditar que qualquer um pode fazer qualquer coisa, se tentar o suficiente, que todos vão ser promovidos a cargos executivos” (Hoppock, 1975)

“Posso fazer qualquer coisa que queira.”; “Estou a falhar, mas não é porque não consigo fazer o trabalho, é só porque não estou a tentar o suficiente.”; “Não estou a fazer bem, tudo o que preciso fazer é trabalhar mais.”

Ideia irracional. “Posso fazer qualquer coisa desde que esteja disposto a trabalhar muito.”

Paradoxo criado. “Posso alcançar qualquer coisa se trabalhar muito, mas estou a trabalhar muito e não estou a conseguir.”

Ideia alternativa. “O trabalho “duro” é necessário para conseguir algumas coisas, mas não é suficiente para que consiga alcançar tudo.”

  • MEU FILHO, O MÉDICO

Este mito surge a partir da tendência para avaliar o valor intrínseco de um ser humano por critérios extrínsecos. Perpetua a ideia de que algumas pessoas são melhores do que outras simplesmente porque detêm uma posição mais elevada na hierarquia profissional. Isto leva à suposição de que o mesmo indivíduo, naturalmente, seria uma pessoa melhor como médico do que seria como um canalizador (Alberti & Emmons, 1974). Também é a base da ideia de que o grau em que uma pessoa pode considerar-se autorrealizada é de alguma forma determinada pela posição que ele ou ela detém na sociedade. O fato é que algumas posições na sociedade contribuem para maior prestígio, mais poder económico, e assim por diante. O médico, no entanto, não vive de forma mais eficaz ou mais feliz do que outras pessoas com outras ocupações. Muitas pessoas aderem a este mito tomando decisões baseadas em prestígio e status apenas, sem levar em consideração outros fatores importantes de desenvolvimento de carreira. Warnath (1975) afirma que as limitações reais do mercado de trabalho e taxa de desemprego sugerem que muitas pessoas terão que aceitar posições que não são prestigiadas, nem tão bem remuneradas. Isso não significa, no entanto, que eles estão condenados à infelicidade.

“Tenho que ter um trabalho gratificante.”; “Não posso sentir-me satisfeito a menos que me torne num____”.; “Assim que receba o meu diploma tudo vai correr bem.”; “Nunca poderia ser um___.”; “Não há nenhuma forma em que poderia ser feliz se não me tornar num _____”.

Ideia irracional. “O meu valor como pessoa é integralmente relacionado com a minha profissão. ”

Paradoxo criado. “Devo ter uma ocupação de prestígio para viver de forma eficaz, mas ocupações de prestígio não garantem a vida eficaz. ”

Ideia alternativa. “A minha eficácia como pessoa é determinada por coisas acima e além do meu estado de ocupação profissional. Posso viver uma vida razoavelmente eficaz com a minha profissão. ”

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

CULPA

Às vezes alguns pacientes culpabilizam-se por eventos traumáticos ocorridos. Seja por aquilo que acreditam que deviam ter feito, ou tinham que ter feito! Ou, talvez alguém lhes disse que tudo o que se passou foi culpa sua….

Por vezes os pacientes acham-se culpados por um determinado evento porque estavam a fazer algo impróprio no momento (por exemplo beber álcool e, em seguida, conduzir e ter um acidente em que o passageiro morre); ou, sentir-se culpado por ter sido o único sobrevivente; ou, sentir-se culpada por ter convidado para sair um agressor sexual; ou, sentir-se culpada pelas discussões e divórcio dos pais; ou, por não cumprir uma determinada tarefa (por exemplo acreditar que devia ter atacado o inimigo e que teria evitado a morte de um camarada amigo); ou, acreditarem que não cumpriram com o seu dever (por exemplo acreditar que deviam ter reparado num pequeno monte de lixo recente no caminho, que continha um engenho explosivo improvisado)…

As pessoas que experimentam um evento traumático, para além das emoções vividas no momento (emoções primárias e naturais como medo, surpresa), podem vir a sentir, após o evento, fortes emoções de vergonha, culpa e tristeza (emoções secundárias, ou sentimentos construídos). Portanto, experimentam emoções que surgem diretamente da experiência do trauma, mas também da interpretação que fazem do acontecimento traumático, e do seu papel.

Quanto às emoções primárias (naturais), estas dissipam-se rapidamente, a menos que haja algo a alimentá-las. É importante a pessoa sentir estas emoções sobre o evento, que na altura poderá não se ter permitido experimentá-las ou deixá-las correr o seu curso natural. O segundo tipo de emoções secundárias (sentimentos construídos) não resultam como resposta ao evento traumático, mas tem por base a forma como a pessoa interpreta o evento posteriormente.

O “caos” cognitivo pós-traumático é em si uma tentativa, mais ou menos adaptativa, de reorganização da estrutura cognitiva que ficou despedaçada no trauma. As crenças anteriores (ideias de mim, outros e mundo) ficam abaladas e desorganizam a pessoa, deixando-a por vezes num estado “procurar sofregamente algo…”, algo que existia e agora não. Se a pessoa tem pensamentos tais como “eu deveria ter salvo o outro” ou “devo ser um falhado pois não consigo superar isto”, então vai sentir “raiva” de si mesmo ou vergonha. Estas emoções e sentimentos não são baseados sobre os factos do evento, mas nas suas interpretações. Quanto mais pensar sobre o evento nestes termos, quanto mais destes sentimentos construídos vai ter.

A vantagem do facto da pessoa saber que está a produzir estes sentimentos é que se mudar os seus pensamentos e interpretações, vai conseguir mudar os seus sentimentos e reações. Uma breve analogia: pense nas suas emoções como um incêndio numa lareira. O fogo tem energia e calor para isso, assim como as suas emoções. No entanto, o fogo vai apagar-se se não é alimentado continuamente. Autoculpa ou pensamentos culpabilizadores podem continuar a alimentar o fogo emocional indefinidamente. Se tirar o combustível dos seus pensamentos, o fogo queima-se rapidamente.

O sentimento de culpa torna-se um ponto de bloqueio na recuperação da pessoa. Os psicólogos podem usar o diálogo socrático para ajudar os pacientes com estas crenças. Em alguns casos, ajudando os pacientes a compreender a probabilidade de resultados, independentemente do seu comportamento, pode ajudá-los com estes pontos de bloqueio. Em muitos casos, as ações dos pacientes tinham pouco ou nenhum impacto sobre os resultados. Os pacientes podem ser ajudados quando têm crenças irrealistas sobre as capacidades humanas. Por exemplo, em contexto militar, se a maioria das pessoas conseguem ver pequenas mudanças de cor numa estrada de terra quando se deslocam num veículo semi-fechado a 45 kms/h, e ainda tem de observar todo o ambiente em redor para detetar todos os tipos de ameaças? A aceitação das decisões tomadas no momento deve ser promovida. Os pacientes podem ser ajudados a fazer perguntas como: “Será que as pessoas boas tomam sempre decisões más?”; “Todas as más decisões resultam em maus resultados?”; e “Tomar boas decisões, por vezes, pode resultar em maus resultados?” O objetivo é ajudar os pacientes a aceitar que tomaram decisões e fizeram escolhas no momento em que, com o benefício da retrospectiva, parecem pouco apoiadas.

Mas eles não tinham como intenção aquele resultado (intencionalidade). E que essa escolha não os torna uma má pessoa. Uma meta importante no tratamento é ajudar os pacientes a aceitar plenamente as suas experiências daquele período/tempo e entender que essas experiências não têm que governar a sua vida.

Por vezes, o discurso em relação ao passado acarreta consigo terminologia que não ajuda a pessoa a recuperar a uma determinada normalidade desejada. É frequente ouvirmos no discurso dos pacientes palavras como “devia” ter feito isto ou aquilo, “devia” ter sido assim ou assado, ou “tinha” que ter percebido isto ou aquilo, ou “tinha” que ter feito doutro modo. São palavras (verbos transitivos) que obrigam a uma determinada ação. O não cumprimento do “dever” implica uma determinada “consequência”. Dever e ter são palavras determinantes do comportamento e a pessoa que acredita que não “fez aquilo que tinha que fazer” incorreu numa infração/erro, sentindo-se culpada pelo facto.

“A culpa é uma resposta apropriada após a pessoa cometer uma atrocidade ou crime.”

Nota: Um paciente pode precisar de aceitar o que fez, estar arrependido e procurar o perdão de si mesmo ou, se for religioso, o perdão dentro da igreja ou outro local de adoração. A maioria das igrejas ou outros lugares de culto não conferem perdão ao impenitente. Se o autor não pediu perdão, não há necessidade de o paciente perdoar. Mesmo se o autor do evento traumático pediu perdão, o paciente não é obrigado a dá-lo! Entender por que alguém fez algo não é o mesmo que desculpá-lo. O paciente poderia encaminhar o autor para a igreja, ou outros locais de culto, para pedir perdão de Deus. O propósito do paciente que concede o perdão não deve ser para alguém fingir que tudo está bem, mas apenas para dar ao paciente alguma paz de espírito. Se o perdão for forçado por outros, isso só trará frustração e culpa.

Ora, como acima referido, a culpa pressupôe “dolo”, agir com intencionalidade. Na maioria dos nossos casos clínicos, os pacientes sentem-se culpabilizados (por eles ou sociedade) e usam de um discurso de culpabilização, confundindo a culpa com responsabilidade. A manutenção deste discurso faz com que a pessoa se mantenha agarrada ao passado, arrastando as emoções do evento idefinidamente.

Assumir a responsabilidade dos seus atos, implica o reconhecimento da sua ação, não intencional, com consequências desagradáveis, que em grande parte dos casos são imprevisíveis e incontroláveis!..

Após um trabalho cognitivo estruturado, o paciente é convidado a reexperenciar o passado e dirigir-se a este num discurso mais atualizado e mais construtivo, substituindo os verbos transitivos por condicionais “gostaria que tivesse sido diferente”, “gostaria de ter sido mais hábil na escolha que fiz”, “naquele momento decidi em condições difíceis e não poderia saber o resultado”.

A Terapia de Processamento Cognitivo (CPT) é uma forma estruturada de terapia que visa confrontar memórias traumáticas distorcidas, para modificar tais crenças e dissipar as emoções inadequadas. Tem uma duração média de doze sessões de uma hora cada e tem como objetivos: a) acilitar a expressão do afeto e adaptar de forma apropriada o acontecimento traumático aos “esquemas” sobre si mesmo e o mundo; b) reconhecer e modificar antigos pensamentos e sentimentos que não são úteis; c) aceitar a realidade do evento traumático; d) flexibilizar as crenças o suficientes para aceitar o evento traumático; e) sentir, genuinamente, emoções acerca do evento traumático. São usados vários materias de apoio e o paciente tem um papel preponderante e ativo na sua recuperação.

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

Terapia de Processamento Cognitivo / Cognitive Processing Therapy (CPT)

Muitas pessoas são expostas a eventos traumáticos.

75% dos portugueses irão experimentar pelo menos um evento traumático ao longo da vida e 43,5% dois ou mais (Albuquerque et al., 2003).

O trauma grave reflete uma agressão à integridade física e psicológica em situações de potencial risco de vida como acidentes graves, violação, combates, assaltos, tentativa de homicídio, catástrofes naturais, objetos cortantes e outros….

No período imediatamente após o trauma a maioria das pessoas poderá desenvolver um conjunto de sinais e sintomas (grupos de sintomas: reexperiencia, evitamento, cognições negativas e estado emocional negativo e persistente, e hiperativação) conhecidos como síndrome de stress pós-traumático. Passado algum tempo, para a maioria das pessoas, esses sintomas diminuem naturalmente e a pessoa recupera-se do evento traumático. Contudo, para uma minoria de pessoas isso não acontece e podem vir a ser diagnosticadas com uma perturbação de stress pós-traumático.

Explicar porque algumas pessoas recuperam do trauma, e outras não, tem sido alvo de variadíssimos estudos. Explicações recaem num conjunto de fatores de risco como antecedentes psiquiátricos, sexo feminino, personalidades borderline, escolaridade…, mas o que sabemos com relativa segurança é que a forma como a pessoa recupera do trauma está relacionada com a sua estrutura cognitiva preexistente (crenças e esquemas cognitivos). Contudo, a imprevisibilidade, sensação de incontrolabilidade e intensidade do trauma poderá desestruturar a mais sólida das estruturas psicológicas!

Há dois tipos de emoções que surgem após os eventos traumáticos:

O primeiro tipo são as emoções que surgem naturalmente a partir do evento. Durante um trauma despoletam-se um conjunto de emoções universais como medo do perigo real…, tristeza com perdas…, ira se foi intencionalmente agredido…, estas emoções naturais têm um curso natural, não durarão para sempre. A menos que haja algo que a pessoa esteja a fazer para alimentá-las! Ainda que desafiante, é importante a pessoa sentir estas emoções, que porventura não se ter permitiu experimentar após o evento, deixando-as correr seu o curso natural.

O segundo tipo de emoções “sentimentos construídos” não resultam diretamente em resposta ao evento traumático em si mesmo, mas na forma como a pessoa interpreta o evento. Se tem pensamentos tais como “eu deveria ter salvo o outro”, “porque fui o único a sobreviver” ou “devo ser um falhado pois não consigo superar isto”, então a pessoa vai sentir culpa, raiva de si mesmo ou vergonha… Estas emoções não são baseadas sobre os fatos do evento, mas nas suas interpretações! Quanto mais a pessoa pensa sobre o evento nestes aspetos, quanto mais sentimentos construídos vai ter.

Ora, estes pensamentos assentes em crenças conflituantes, ou fortes crenças negativas, criam emoções desagradáveis e comportamentos problemáticos ou insalubres, podendo tornarem-se em obstáculos “pontos de bloqueio” na recuperação da pessoa.

Com base nisso, é útil pensar a perturbação de stress pós-traumático como um problema na recuperação. Algo surgiu no processo natural de recuperação.

Durante a terapia de processamento cognitivo um dos nossos objetivos é determinar o que ficou a servir de “obstáculo” e “mudá-lo” para que a pessoa possa recuperar do que aconteceu. Trabalhamos com o paciente para o libertar desses obstáculos – ”bloqueios”.

Assim, durante a terapia de processamento cognitivo tentaremos ajudar a pessoa a reconhecer e modificar o que está a dizer para si mesmo. Noutras palavras, os seus pensamentos e interpretações sobre o evento, que podem ter-se tornado automáticas. Estas crenças distorcidas podem tornar-se tão automáticas que o paciente pode nem estar ciente de que as tem. Mesmo que esteja ciente do que está a dizer para si mesmo, as suas crenças e auto-afirmações afetam o seu humor e comportamento. Muitas vezes, as pessoas não estão cientes dos pensamentos sobre o que estão a experimentar, ou sentir.

Quando ocorre um evento inesperado que não se encaixa nas suas crenças, existem diferentes formas de como a pessoa poderá tentar fazer para ajustar esse evento, essa nova realidade, com as suas crenças anteriores.

Uma forma de tentar fazer para que o evento e as suas crenças “encaixem” é alterando as suas memórias ou interpretação do evento para se encaixar com suas crenças pré-existentes (assimilação). Exemplos de mudança nas suas interpretações / memórias do evento são tentar culpar-se por não ter conseguido impedir o evento (ou proteger os entes queridos), ter problemas em aceitar que o evento aconteceu…, para esquecer que aconteceu…, ou esquecer as partes mais horripilantes da experiência. Alterando o evento pode parecer mais fácil do que mudar todo o seu conjunto de crenças sobre o mundo, como as pessoas se comportam, ou as suas crenças sobre segurança.

É possível que a pessoa, em vez de mudar o evento, possa ter tentado mudar as suas crenças para aceitar o que aconteceu (acomodação). Esta é uma das nossas metas na terapia de processamento cognitivo. Infelizmente, algumas pessoas vão além disso e mudam exageradamente as suas crenças, o que pode resultar numa relutância em, por exemplo, tornar-se íntimo de pessoas ou desenvolver a confiança, e aumentar o medo (super-acomodação). Exemplos que refletem uma mudança extrema em crenças incluem pensar que ninguém pode ser confiável ou que o mundo é completamente perigoso.

Para algumas pessoas que tiveram experiências negativas anteriores na sua vida, os eventos traumáticos podem parecem reforçar ou confirmar estas crenças anteriores. Por exemplo, antes de ter experimentado um trauma poderia ter acreditado que os outros não eram confiáveis, ou que o mundo geralmente não é seguro. O evento traumático vem e parece querer confirmar essas crenças! Ou, talvez foi-lhe dito que tudo foi culpa sua fazendo o reforço da crença. Assim, quando uma coisa má acontece parece confirmar que, mais uma vez, é culpa sua.

As nossas metas na terapia são:

1) Ajudá-lo a aceitar a realidade do evento

2) Ajudá-lo a sentir emoções sobre o evento

3) Ajudá-lo a desenvolver crenças equilibradas e realistas sobre o evento, sobre si mesmo, e sobre os outros.


Saiba mais sobre CPT em www.ptsd-center.com

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

Ataques de pânico / Crises de ansiedade

O que são os “Ataques de Pânico” ou de “Ansiedade”?

O ataque de pânico é um fenómeno físico resultante do processo de ansiedade, quando se sente um nível extremo de ansiedade!!

A ansiedade é um fenómeno físico e senso-perceptivo de reação à emoção medo, provocado pela libertação de adrenalina no sangue pelas glândulas supra-renais que injeta corticoesteroides no sistema linfático, sobretudo cortisol (hormona do stress), que prepara o nosso organismo para a ação, para grandes esforços físicos, estimulando o coração, elevando a tensão arterial, relaxando certos músculos e contraindo outros.

Por vezes, como efeito secundário de medicação, drogas ou de debilidades físicas diversas, existe uma libertação de adrenalina em excesso causando assim um colapso físico, sentindo-se um estado de pânico. Este colapso físico, tendo sintomas semelhantes à ansiedade, faz com que a mente acredite poder estar num estado iminente de morte (perigo), e aqui pode iniciar-se o primeiro evento do síndroma de pânico. A partir deste evento isolado de pânico pode gerar-se o medo de sentir novamente o pânico!Um tipo de medo aprendido (condicionamento clássico) e mantido (condicionamento operante).

Quem sofre desta perturbação sente uma ansiedade máxima em situações inexplicáveis, não conseguindo reconhecer os medos que lhes são inerentes.

Sintomas mais frequentes dos ataques de pânico:

– Dificuldade respiratória ou sensação de estar a sufocar

– Vertigens, instabilidade ou desmaio

– Palpitações ou ritmo cardíaco acelerado

– Tremuras ligeiras ou acentuadas

– Sudação

– Falta de ar

– Náuseas, dor de estômago ou diarreia

– Sensação de irrealidade, estranheza ou separação do meio envolvente

– Sensações de adormecimento ou de formigueiros

– Ruborização ou calafrios

– Dor ou incomodidade no peito

– Medo de morrer

– Medo de «tornar-se louco» ou de perder o controlo


Estes sintomas são tão fortes, que ao acreditarmos que vamos morrer, criam-se só por si um trauma inconsciente e resistente que provoca um processo mental profundo e contínuo de afastamento de todas as experiências que interpretamos na altura serem a causa do colapso físico vivido.

Como a nossa mente não conseguiu entender que as causas reais deste colapso tiveram na sua origem uma debilidade física (pois o seu corpo e o cérebro emocional não distinguem entre coisas que pensa ou imagina e a experiência real, física) relaciona os fatores externos que aconteceram nesse momento, como por exemplo: o lugar e as circunstâncias onde estavam, os pensamentos que tinham, como experiências agressoras e perturbadoras a evitar no futuro.

Este processo mental erróneo provoca uma ansiedade elevadíssima todas as vezes que se está perante estas experiências consideradas agressoras. As pessoas perturbadas com esta síndrome são levadas a pensar que têm fobias diversas quando na verdade o que sentem é um medo extremo de estar expostas a experiências que a mente entende como potencialmente ameaçadoras.

Tratamento:

Os Ataques de ansiedade/pânico tratam-se na sua origem, ajudando as pessoas que sofrem a identificarem a emoção de medo traumático resultante do evento desencadeador de pânico (e sua interpretação desse mesmo evento) e a lidarem com esta.

Diversos estudos clínicos demonstram a eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) no tratamento da Perturbação de Pânico. A TCC consiste em ensinar ao paciente procedimentos terapêuticos que visam a redução dos sintomas físicos da ansiedade (relaxamento e treino de respiração), da esquiva fóbica (terapia de exposição aos estímulos desencadeantes dos ataques de pânico) e a modificação dos pensamentos disfuncionais (reestruturação cognitiva). O tempo de duração é curto e a autoaplicação, entre as consultas, das técnicas aprendidas é essencial para o sucesso do tratamento e para a manutenção da melhora clínica a longo prazo.

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

MILITARES PORTUGUESES PODEM VIR A ENFRENTAR UM TEMÍVEL INIMIGO…

Militares portugueses podem vir a enfrentar um temível inimigo…a Perturbação de Stress Pós-traumático.

Não é motivo para alarme! Mas devemos aprender com o nosso passado recente e importa realçar a importância da prevenção do Stress Pós-traumático, pois nesta matéria “Uma grama de prevenção equivale a um quilo de cura”.

À semelhança dos nossos veteranos da guerra do ultramar, os militares portugueses pertencentes à Força de Reação Imediata ao serviço das Nações Unidas na Republica Centro-Africana (MINUSCA) desenvolvem atividades de alto risco no teatro de operações, onde a probabilidade de serem expostos a um evento traumático é alta, como recentemente se verificou com o envolvimento destes militares em confrontos em Bangui, capital da República Centro Africana, resultando num elemento ferido.

Depois de passarem por um evento traumático, os sobreviventes costumam dizer que o seu primeiro sentimento é o alívio por estarem vivos. Isto pode ser seguido de stress, tristeza, medo e cólera. Podem ter problemas para dormir, concentrar-se ou lembrar-se de tarefas simples. Os sobreviventes de trauma também podem pensar que são incapazes de parar de pensar sobre o que aconteceu. Muitos sobreviventes mostrarão um alto nível de excitação, o que os faz reagir fortemente aos sons e a cenários em seu redor.

A maioria das pessoas tem algum tipo de reação de stress após um trauma. Ter tal reação não tem nada a ver com fraqueza pessoal, é natural e adaptativo. As reações de stress podem durar vários dias ou mesmo algumas semanas. Para a maioria das pessoas, se os sintomas ocorrem, vão diminuir lentamente ao longo do tempo. Contudo, numa minoria de pessoas (por exemplo, 10% nos veteranos de guerra do ultramar) esses sintomas não regridem e pode instalar-se um quadro clínico pós-traumático. Não há medicação para curar a Perturbação de Stress Pós-traumático.

Para aquelas pessoas que possam estar a lutar por entender as suas reações pós trauma, ou como algo tão terrível poderia acontecer consigo, ou porque está a sentir uma avalanche de emoções e sentimentos, ou a pensar como as suas crenças anteriores sobre si, sobre o mundo e os outros foram colocadas em causa…, saibam que pode não haver respostas totalmente satisfatórias para essas perguntas. Estes eventos são na sua maioria imprevisíveis e incontroláveis, deixando grande parte das vezes os intervenientes com um sentimento de culpabilidade infundado, fruto de crenças irrealistas e erros cognitivos comuns que dificultam a recuperação.

Sabemos, no entanto, que com a adoção de algumas estratégias, intervenção psicológica adequada, com o tempo, o apoio cuidadoso da família e dos amigos pode ajudar a diminuir o impacto emocional e, finalmente tornar as mudanças trazidas pelo evento traumático mais fáceis de gerir. Pode sentir que o mundo é hoje um lugar mais perigoso do que ontem. Levará algum tempo para recuperar o seu senso de equilíbrio.

Enquanto isso, pode estar a perguntar como continuar a viver a sua vida diária. Pode sempre começar por fortalecer a sua resiliência – a capacidade de se adaptar bem diante da adversidade – nos próximos dias e semanas. Aqui estão algumas dicas:

– Fale sobre isso. Peça apoio de pessoas que se importam consigo e que irão ouvir suas preocupações. Receber apoio e cuidados pode ser reconfortante e tranquilizador. Muitas vezes ajuda falar com outras pessoas que compartilharam a sua experiência para que não se sinta tão diferente ou sozinho.

– Esforce-se pelo equilíbrio. Quando ocorre uma tragédia, é fácil ficar sobrecarregado e ter uma visão negativa ou pessimista. Equilibre esse ponto de vista lembrando-se de pessoas e eventos que sejam significativos e reconfortantes, até encorajadores. Esforçar-se pelo equilíbrio dá-lhe poderes e permite uma perspetiva mais saudável de si e do mundo à sua volta.

– Desligue e faça uma pausa. Pode querer manter-se informado, mas tente limitar a quantidade de notícias que recebe, seja na Internet, televisão, jornais ou revistas. Enquanto receber notícias informa-o, sim, mas a superexposição a notícias pode aumentar pensamentos negativos e o seu stress. As imagens podem ser muito poderosas para despertar o seu sentimento de angústia. Além disso, programe alguns intervalos para se distrair de pensar no incidente e concentrar-se em algo que goste. Tente fazer algo que eleve o seu estado de espírito.

– Honre os seus sentimentos. Lembre-se que é comum ter uma gama de emoções após um incidente traumático. Pode experimentar um stress intenso semelhante aos efeitos de uma lesão física. Por exemplo, pode sentir-se exausto, dolorido ou desequilibrado.

– Cuide-se. Envolva-se em comportamentos saudáveis para melhorar a sua capacidade de lidar com o stress excessivo. Coma refeições equilibradas, descanse bastante e desenvolva atividade física durante o dia. Evite álcool e drogas porque podem suprimir os seus sentimentos ao invés de ajudá-lo a gerir e diminuir o seu sofrimento. Além disso, o álcool e as drogas podem intensificar a sua dor emocional ou física. Estabeleça ou restabeleça rotinas, como fazer refeições em horários regulares e seguir um programa de exercícios. Se está a ter problemas para dormir, tente algumas técnicas de relaxamento, como respiração profunda, meditação ou ioga.

– Ajude os outros ou faça algo produtivo. Procure recursos disponíveis no aquartelamento, ou comunidade, sobre formas de ajudar pessoas que foram afetadas por esse incidente ou outras necessidades. Ajudar alguém com frequência também tem o benefício de fazer sentir-se melhor.

– Se perdeu amigos ou familiares recentemente nesta ou noutras tragédias. Lembre-se que o luto é um processo longo. Dê a si mesmo tempo para experimentar os seus sentimentos e recuperar. Para alguns, isso pode envolver ficar em casa, para outros pode significar voltar à sua rotina diária. Lidar com o choque e o trauma de um evento intenso levará tempo. É típico esperar muitos altos e baixos, incluindo “culpa do sobrevivente” – sentindo-se mal por ter escapado da tragédia, enquanto outros não, ou “culpa de realização” – devia ter feito isto ou aquilo…, etc.

Para muitas pessoas, usar as dicas e estratégias mencionadas acima pode ser suficiente para superar a crise atual. Às vezes, no entanto, um indivíduo pode ficar “bloqueado” ou ter dificuldade em gerir as reações intensas. Um profissional de saúde mental como um psicólogo ou psiquiatra pode ajudá-lo a desenvolver uma estratégia apropriada para avançar. É importante obter ajuda profissional se sentir que não pode funcionar ou realizar atividades básicas da vida diária. Estão disponíveis bons tratamentos.

Boa sorte e bom regresso a todos os nossos militares em missão pelo mundo!

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

PTSD É TAMBÉM UMA DOENÇA FÍSICA!

Falamos de Perturbação de Stress Pós-traumático (PSPT) quando as consequências psicológicas de um evento traumático se prolongam no tempo, mais do que um mês, podendo no entanto haver um início retardado (quando os sintomas apenas se manifestam dias, semanas ou meses após o evento). Nesta situação é essencial que a pessoa seja acompanhada por psicologia e psiquiatria.

A PSPT atinge o espírito, a alma, a mente, as emoções, as memórias e o corpo. A PSPT é também uma doença do corpo, uma doença somática, passível de ser tratada também a este nível, que sustenta a necessidade de intervenções farmacológicas e não-farmacológicas.

Sabemos que a PSPT cursa com hiperatividade noradrenérgica (o circuito noradrenérgico é o principal sistema de alarme, acionado o circuito cardiovascular) em situações de algum modo relacionadas com o evento traumático.

Não existem psicofármacos específicos para o tratamento da PSPT, e o uso de fármacos numa fase inicial até pode ser contrapruducente (no caso das benzodiazepinas, sobretudo nas fases mais precoces da doença), mas medicação com ação antiadrenérgica poderá ser considerada.

Uma intervenção precoce após o trauma e um diagnóstico de PSPT feito pouco depois dos sintomas aparecerem podem ser muito úteis, se se proporcionar psicoeducação para auxiliar o indivíduo a saber que espécies de sintomas são esperados, de forma que ele compreenda que estas reações não são invulgares e que não deve evitá-las. A psicoeducação, a desenssibilização e a normalização podem auxiliar estes indivíduos a recuperar o controlo das suas vidas.

Há bons tratamentos disponíveis para PSPT. Os dois principais tipos são a psicoterapia e a medicação. Às vezes psicoterapia e medicação, complementam-se.

As Terapias Cognitivo-Comportamental (TCC) são psicoterapias focadas e de duração relativamente curtas para uma vasta série de problemas psicológicos, incluindo a depressão, a ansiedade, a ira, o conflito conjugal, os medos e a dependência/ abuso de substâncias. O foco da terapia é no modo como pensamos (as nossas “cognições”), nos comportamos e comunicamos hoje, mais do que nas nossas experiências da primeira infância.

As Terapias Cognitivo-Comportamental são o tratamento mais eficaz para PSPT, geralmente envolvem o encontro com o seu terapeuta uma vez por semana por até quatro meses. Existem diferentes tipos de terapias cognitivo-comportamental. Os dois tipos mais estudados de TCC na PSPT são a Terapia de Processamento Cognitivo (CPT) e a Terapia de Exposição Prolongada (PE).

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

ESTIGMA

Vários estudos demonstram que as pessoas, em geral, apresentam grande desconhecimento sobre as doenças mentais e uma reação negativa diante pessoas com doença mental, considerando-os relativamente “perigosos”, “sujos”, “imprevisíveis” e “sem valor”.

Essa perceção inicial traduz-se em “estereótipos”, imagens, ideias concebidas sem conhecimentos suficientes ou inadequados, provocando emoções e sentimentos de “medo, desconfiança e aversão” pelos portadores de doenças mentais.

A emoção medo é a mais primitiva das emoções e tem uma importante função na sobrevivência e proteção da espécie. Todos os animais – dos insetos aos humanos – nascem com a capacidade de detetar e responder a certos tipos de perigos. Há as respostas inatas e as que se adquirem por transmissão social.

A forma como pensamos interfere na forma como sentimos e nos comportamos!

Os seres humanos não lidam bem com o “desconhecido” por representar uma ameaça “perigo”, ficam desconfortáveis e tendem a evitar a dor, levando-os a usar de preconceitos, que se traduzem em juízos de valor com sentido pejorativo como por exemplo “mau”, “feio”, e opiniões (favoráveis ou desfavoráveis) formadas antecipadamente, sem fundamento sério ou análise crítica.

Este estado de mal-estar, ansiedade e desconforto, levam a pessoa a adotar comportamentos discriminatórios, que se traduzem por exemplo em comportamentos de rejeição, distinção, ou “identificação”…como os rótulos, e ao distanciamento social da pessoa estigmatizada.

Quando nos referimos a alguém que tem uma perturbação mental como “doente”, “louco”, “esquizofrénico” (estereótipos), estamos não só a demonstrar desconhecimento…, como estamos a demonstrar os nossos valores e crenças negativas (preconceitos), para além duma atitude pouco construtiva e civilizada (discriminação e exclusão social). Estes termos são usados como rótulos sem sentido e trazem mais sofrimento para estas pessoas! Estes comportamentos alimentam o estigma.

Como saberão, os profissionais de saúde mental apoiam-se por vezes num manual estatístico de doenças mentais (DSM V) que classifica e categoriza as várias psicopatologias, dá nome às entidades patológicas, mas não é usado para classificar ou categorizar pessoas!!

O processo de desinstitucionalização das pessoas com uma doenças mentais – fecho de hospitais psiquiátricos, abertura de serviços comunitários e centros terapêuticos, tratamentos em ambulatório – veio estreitar a distância entre a saúde mental e a doença mental na medida em que a população geral fica mais exposta a contactos com pessoas com um problema de saúde mental.

Aliado a esta mudança de paradigma está um incremento de informações sobre a real situação da condição de saúde da pessoa com um problema de saúde mental, que felizmente tem contribuído para o decréscimo do estigma a esta associada.

A ideia de que os doentes mentais são violentos é muitas vezes difundida pela média (e até no discurso político “esquizofrénico”) e não encontra respaldo na realidade na medida em que, na maioria das vezes, os portadores são mais vítimas de violência que perpetradores desta.

Assim, o estigma relacionado com pessoas com um problema de saúde mental, além de associar-se a uma visão estereotipada de imprevisibilidade e violência, associa-se também à negação de direitos humanos dos portadores de uma doença, que frequentemente contribui para sua exclusão social e os coloca numa posição de desvantagem quando procuram emprego, habitação, estudos… e mesmo no acesso a tratamento.

O estigma produz efeitos nefastos no próprio em autoestigma e baixa autoestima, contribuindo para uma pior qualidade de vida. Usualmente, o estigma e a discriminação em relação às pessoas com pessoas com um problema de saúde mental estendem-se à família, amigos e mesmo a profissionais e serviços de saúde mental, observando-se também uma discriminação orçamentária da saúde mental nas políticas de saúde pública.

Todos temos uma opção…de fazer diferente!

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

AUTOCONCEITO VS CONCEITO REAL

O autoconceito pode ser definido de uma forma simples, como a perceção que o indivíduo tem de si próprio e o conceito que, devido a isso, forma de si.

Aceita-se que existem quatro tipos de influências que ajudam a construir o autoconceito:

1. O modo como as outras pessoas observam um indivíduo;

2. A noção que o indivíduo guarda do seu desempenho em situações específicas;

3. O confronto da conduta da pessoa com a dos pares sociais com quem se encontra identificada;

4. A avaliação de um comportamento específico em função de valores veiculados por grupos normativos.


Todos estes fatores ajudam a constituir o autoconceito, que pode adquirir características positivas ou negativas.

O autoconceito ideal define-se como o que a pessoa pensa que quer ser, ao contrário do autoconceito real que remete para o que a pessoa é na realidade. Deste modo, e estando a autoestima relacionada com o autoconceito, quanto maior for a discrepância entre o autoconceito real e o autoconceito ideal, menor será a autoestima. A existência de um autoconceito elevado nas áreas que o indivíduo considera importantes origina níveis elevados de autoestima e a perceção de competência baixa em áreas importantes conduz a baixa autoestima.


O autoconceito não é mais do que um constructo hipotético, tal como muitos outros existentes em psicologia. No entanto é útil e necessário, tem a vantagem de permitir descrever, explicar e predizer o comportamento humano e fazer uma ideia de como o indivíduo se concebe e considera a si próprio. Por conseguinte, é um constructo que ajuda a compreender a uniformidade, a consistência e a coerência do comportamento, a formação da identidade pessoal e porque é que se mantêm certos padrões de conduta no desdobrar do tempo. Desempenha, por isso, o papel importante de um elemento integrador.

O autoconceito é importante em todas as áreas de funcionamento da pessoa, podendo ser classificado em diversos tipos, como os autoconceitos académico, emocional, social ou físico. Cada qual liga-se a aspetos diferentes do comportamento humano.

A promoção do autoconceito está associada a muitos benefícios como um aumento do envolvimento escolar ou profissional e melhorias no desempenho (Cava & Musitu, 2000), entre outros.


Mas como podemos tem uma melhor noção do nosso conceito real?

Não raras vezes somos confrontados com indivíduos que tem um autoconceito ideal desfasado do conceito real, originado naturais incongruências na sua perceção. Não é raro encontrar exemplos de jovens atletas, que tem um autoconceito de que são craques da bola, ou um autoconceito ideal de ser um profissional de futebol como o “Ronaldo”, para depois serem confrontados com diferentes opiniões do seu treinador…ficando a conhecer um conceito real da sua performance. Ou até aquele profissional que tem o autoconceito que é o “melhor” do serviço, para depois ser confrontado com a discriminação por falta de habilidade na comunicação interpessoal, competência ou até ser dispensado por défices de performance.

Um simples exercício de feedback pode ajudar a melhorar a perceção do conceito real, que ajudará a ajustar tais expectativas e adequar comportamentos e na definição de objetivos.

Para isso há que ter a coragem para suprimir os nossos mecanismos de defesa e estar disponível para reajustar, caso necessário, um conceito sempre mutante como a vida o é:

  1. Escreva num papel alguns atributos positivos e negativos sobre si mesmo. Este autoperceção traduz o autoconceito (a forma como se percebe);

  2. Solicite a, pelo menos, 5 pessoas (familiares, amigos, conhecidos…se possível daqueles amigos que lhe dizem tudo “sem reservas” para maior fidedignidade) que lhe forneçam feedback objetivo (sem ter que dar explicações) sobre 5 aspetos positivos e negativos da sua personalidade (aquilo que é visível aos outros). Depois aceite simplesmente o feedback, reunir os atributos, compile-os numa tabela;

  3. Faça uma análise objetiva sobre as diferenças que encontrou entre o seu autoconceito e o seu conceito real. Se possível, faça essa análise acompanhado doutra pessoa, pois no caso de pessoas com perfil tímido ou com locus de controlo externos a si (os seus sucesso são devidos à sorte ou a outros…) a tendência é para se menosprezar e valorizar os comentários negativos dos outros, reforçando a sua baixa autoestima.

  4. Aceite que a forma como percebe a realidade pode estar desajustada e tenha a coragem para se adaptar, mais do que lutar contra ela. É mais fácil ajustar-se à realidade do que tentar mudá-la!

Boa reflexão!


Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

PORQUE TEMOS EMOÇÕES?

O ser humano é o ser mais evoluído por natureza. Possui um corpo que compreende partes exclusivamente animais e partes exclusivamente humanas. Quase todos os órgãos do corpo humano são anatomicamente análogos aos dos outros animais da sua classe. Apesar de alguns animais possuírem alguns órgãos com capacidades maiores que os humanos, estes, possuem um conjunto anatómico desenvolvido que ultrapassa todas as capacidades de todos os outros.

Resultado de milhares e milhares de anos de evolução natural, o aparelho vocal humano que produz dezenas de fonemas e o seu cérebro que os memoriza, formaram o duo ideal para a criação da racionalidade. Falar e pensar, e memorizar o que se pensa e fala, só o homem consegue.

A racionalização humana criou novos valores, novas ideias e novas realidades. E essas novas realidades reforçaram o crescimento de outras. A linguagem obrigou ao desenvolvimento do cérebro e vice-versa, e ambas obrigaram ao desenvolvimento de todo o corpo humano. Os sentidos humanos tornaram-se os mais desenvolvidos — o apuramento do paladar, olfato, audição, e principalmente do tato, são muito desenvolvidos no homem, assim como a visão, nomeadamente na sua sensibilidade às cores.

Todos estes aspetos criarem novas necessidades ao ser humano, incluindo as formas de se expressar, não só o que sentiam pela sua natureza animal, mas também pelo que sentiam pela sua capacidade de criação mental. Por essa razão, a natureza dotou o ser humano de características únicas, como a capacidade de corar porque mente, chorar porque está triste ou rir porque está alegre.

Qualquer sentimento emocional é um acumular de tensão que tem origem em tudo o que nos rodeia, ou em nós próprios, e vai contra a nossa capacidade de reação ou de compreensão imediata. As emoções são a forma de esvaziar essa tensão.

Os animais não têm compreensão, por isso não têm sentimentos, por isso não acumulam tensão emocional ou nervosa, e por isso não riem ou choram.

Se uma pessoa tem vontade de fazer alguma coisa, mas não a faz porque a consciência — a sociedade, a cultura, a religião, a lei e tudo o que é de origem humana — não permite, aí vai ser criada uma determinada tensão emocional que pode ser expressa das mais variadas formas: com depressão, violência, apatia, e normalmente acompanhada com tristeza por ser uma tensão negativa. Da mesma forma, se uma pessoa é acalmada por algo que não esperava, ou se sente uma satisfação superior á imaginada, fica também sem conseguir compreender e reagir. Acumula igualmente tensão que precisa ser igualmente esvaziada pelas emoções — agora de alegria. É o regresso do corpo ao equilíbrio saudável.

Nós temos sentimentos e emoções porque compreendemos umas coisas, mas não compreendemos outras. Se nós compreendêssemos tudo, também não teríamos emoções. As emoções estão intimamente ligadas ao desconhecido, ao duvidoso, ao ambíguo e ao incerto. Não existem emoções referentes àquilo que nós conhecemos ou desconhecemos totalmente. O que é totalmente consciente ou inconsciente não emociona.

As emoções podem ser agradáveis ou desagradáveis mas são todas adaptativas, isto é, orientam-nos para a nossa sobrevivência. As emoções são como um sistema de comunicações complexo, que regulam a forma como interagimos com o meio.

As emoções básicas são: Alegria, Amor, Surpresa, Ira, Tristeza e Medo. Cada uma destas emoções tem uma função. São como um “software” que servem não apenas para comunicar, mas para impulsionar à ação, e rápido.

Na maioria das situações do quotidiano estes comportamentos são-nos extremamente úteis. Por exemplo, se virmos uma cobra, o medo (tem a função de proteção e sobrevivência) vai-nos dizer para fugir; se perdemos um ente querido a tristeza (tem a função a reintegração pessoal, “motiva-nos a”) orienta-nos a sair do trabalho e ficar em casa para procurar “apoio”; quando estamos alegres estamos mais dispostos a explorar e experimentar novas situações, é mais fácil planear e adotar decisões de forma mais rápida, etc.

Mas, às vezes, as nossas emoções ficam desreguladas em padrões que não nos ajudam. Por exemplo, o medo empurra-nos a fugir de tudo, a tristeza de nos retirarmos das atividades que nos ajudam a sentir melhor, e a vergonha (sentimento secundário à tristeza) para nos escondermos de tudo, para que nunca tenhamos qualquer hipótese de nos relacionarmos e recuperar!…, provocando mais conflitos emocionais com os consequentes efeitos nefastos.

Os impulsos de evitamento do desconforto emocional a todo o custo podem dificultar a nossa vida: quando evitamos emoções indesejáveis, acabamos por perder todas as dimensões que as animam também. É quando precisamos de ativar o nível mais alto do nosso cérebro, o córtex pré-frontal, para refletir: Estarão estas emoções a empurrar-nos numa direção útil? Estão a permitir-nos viver a vida plena que gostaríamos de viver?

Se a resposta for não, o nosso córtex pré-frontal, a estrutura anatómica do cérebro mais recentemente desenvolvida no processo evolutivo, onde residem funções como pensamentos complexos, planeamento de comportamentos, expressão da personalidade, tomada de decisões ou modulação do comportamento social, sobrepõem-se ao nosso sistema límbico (“emoções”, à amígdala, o “coração emocional” responsável pelo processamento emocional, ou na aquisição das respostas de medo, desempenhando um papel central nas respostas de alarme e reação do organismo a determinados estímulos), empurrando-nos a agir para o lado oposto de como nos sentimos, mesmo que estejamos a sentir-nos realmente desconfortáveis no momento.

Isto permite-nos experimentar uma emoção difícil no momento, mas continuar a mover numa direção útil a longo prazo (por exemplo, permite à pessoa aproximar-se gradualmente dos seus medos e continuar a envolver-se em atividades que gosta, e com os outros, apesar de sentir tristeza ou vergonha).

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

COMO CONTROLAR O SONO?

Para todas as pessoas, o sono é parte do ritmo da vida. Sem um “bom” sono, o corpo perde a capacidade de se revitalizar, a mente é menos hábil e o humor é alterado. Os ritmos circadianos têm um grande impacto sobre a nossa saúde.

Muitas pessoas não têm qualquer problema em adormecer mas, para muitas outras, que sofrem de insónias ou sonolência excessiva, ir para a cama pode ser um verdadeiro tormento! Por mais que tentem, a falta de sono, o excesso de vigília e a dificuldade em adormecer em função do desajuste dos ritmos circadianos impedem-nas de dormir.

Outras dificuldades comuns prendem-se com a sonolência excessiva que ocorre nos casos de narcolepsia ou noutras perturbações do sono como apneia, da síndrome das pernas irrequietas ou movimento dos membros.

As perturbações de sono estão associadas a determinadas perturbações psicológicas e comportamentais como por exemplo, a depressão, ansiedade generalizada, problemas de memória, lentificação do raciocínio, lentificação da reacção, irritabilidade, impulsividade, perturbação pós-stress traumático, agitação, entre outras.

Recomendo a estar particularmente atento ao fenómeno de privação de sono. Ou seja, entendemos a privação de sono como a ausência das horas necessárias à recuperação do seu corpo. É para isso que serve o sono, recuperar corpo e mente!

A privação do sono poderá provocar sintomas como irritabilidade, lapsos de memória, dificuldade em manter a atenção numa tarefa, as defesas do seu corpo ficam em baixo (fragilidade no sistema imunitário) e possui menos protecção quanto a infecções, lentificação das respostas comportamentais e aumento do tempo de reacção aos estímulos.

Se está a identificar-se com o que leu até agora, não pare e continue…

Saiba que existem algumas ideias que deverá pôr em prática e que o podem ajudar. São algumas dicas e truques que pretendem aumentar a qualidade do seu sono.

Estas técnicas destinam-se a aumentar a associação entre a cama e o sono, e, simultaneamente reduzir a associação entre a cama e o estar acordado. Ou seja, a cama serve apenas para dormir…. ou namorar!

A investigação comprova que, quanto mais tempo ficar na cama acordado, maior será a associação da cama com o estar acordado e não é isso que queremos:

1. Certifique-se que se sente sonolento quando apaga as luzes antes de ir dormir:

Ninguém dorme se não estiver com vontade de dormir. Se não adormecer no espaço 20-30 minutos, seja na hora de dormir, seja quando acorda a meio da noite, levante-se! Faça uma actividade relaxante durante 30 minutos. Repita este processo (meia hora/meia hora) as vezes que forem necessárias até adormecer.

2. Efetue um registo do seu sono durante uma semana:

Anote a hora a que se deita e a hora a que se levanta.

3. Tente gerir o tempo programado para dormir:

Se fez o registo anterior já sabe quantas horas de sono tem por noite. Faça uma média de uma semana e vai ter o seu tempo médio de sono necessário. Exemplo: Se obteve uma média de 6 horas de sono e definiu que se vai levantar às 8 horas da manhã todos os dias, então nunca se poderá deitar depois das 2 horas da madrugada. Ao longo de um mês poderá progressivamente deitar-se mais cedo, mas nunca mude a hora de despertar.

4. Acordar a horas certas:

Levante-se sempre (mais ou menos) à mesma hora todos os dias, incluindo fins-de-semana, mesmo que tenha dormido mal!

5. “Pequeno-almoço de rei, almoço de príncipe e jantar de pobre”…

Uma refeição pesada tende a aumentar a sonolência em pessoas propícias a insónias, não deve ir para a cama com o estômago cheio. Aguarde até fazer a digestão. A refeição da noite deve ser ligeira, não vai precisar de tanta “energia” para dormir…

6. Comece o seu dia passando pelo menos 20 minutos ao sol:

Ajuda a adiantar o nosso relógio biológico, dizendo-lhe para se manter desperto.

7. Pratique exercício físico diário regularmente, preferencialmente 4 a 6 horas antes de dormir.

8. Reduza o consumo de tabaco, cafeína e de álcool, preferencialmente 4 a 6 horas antes de dormir:

Os seus efeitos psico-estimulantes podem manter-se por 6 horas ou mais, por isso, a cafeína deve ser evitada a partir da hora de almoço…e isto é ainda mais relevante em pessoas ansiosas…

O consumo (moderado) de álcool também pode perturbar o sono, anula o sono profundo e quebra o período de sono.

9. Evite trabalhos importantes antes de se deitar:

Por exemplo, pagar contas, reuniões, agendar actividades ou estudar…e evite levar preocupações para a cama!

10. Reduza o consumo de líquidos antes de se deitar:

Não raras vezes o sono é interrompido pela vontade de ir ao wc…e é uma perturbação (perfeitamente evitável) do sono, sobretudo nefasta para quem tem insónias intermédias…

Ingira líquidos durante o dia, mas reduza-os, consideravelmente, a partir do jantar e vá ao wc antes de se deitar

11. Anote num post it as ideias chave sobre tarefas a realizar no dia seguinte:

Este registo poderá fazê-lo sentir-se mais seguro das tarefas a realizar, minimizando a preocupação no momento de se deitar.

12. O quarto deve estar:

– Fresco. Abra as janelas, utilize uma ventoinha ou ar condicionado, para o manter fresco.

– Tranquilo. Feche as janelas, se houver ruído exterior, utilize tampões de ouvidos.

– Escuro. Mantenha o quarto escuro, fechando cortinados ou usando protectores para os olhos.

– Organizado e limpo. Mantenha apenas as coisas essenciais no quarto.


Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

DISLEXIA

A Dislexia é considerada uma perturbação específica de aprendizagem de origem neurobiológica, que se caracteriza por dificuldades no reconhecimento fluente e/ou preciso de palavras escritas, na ortografia e descodificação. Estas dificuldades podem ocorrer apesar de uma instrução académica adequada e de manter outras competências cognitivas.

É uma das perturbações da aprendizagem infantis mais frequentes. Difícil de identificar, a Dislexia é muitas vezes mal compreendida por pais e professores, passando os disléxicos despercebidos e considerados “normais”, ficando associados ao baixo rendimento escolar normativo.

Algumas crianças nem têm conhecimento do seu problema, apresentando reações emocionais secundárias (por exemplo ansiedade, não gostar de ir à escola, irritabilidade…), decorrentes das alterações específicas nos processos de leitura e escrita. Habitualmente estas dificuldades resultam de uma disfuncionalidade na componente fonológica da linguagem.

Como aprendemos a ler?

Para aprender a identificar a forma escrita das palavras que não conhecemos, deveremos segmentar a palavra escrita em unidades grafémicas e faze-las corresponder com os fonemas que lhe estão associados (correspondência grafema-fonema; por exemplo grafema B, fonema “bê”, grafema E, fonema “efe”; e posteriormente a construção da palavra com sílabas, por exemplo batota, ba…to…ta).

Para este efeito utilizamos a via indireta (mediação fonológica), que obedece a regras de conversão grafo-fonológicas e permite-nos aceder a um grande número de palavras. Ao dominarmos o código alfabético e as suas regras, tornamo-nos leitores autónomos.

Para lermos palavras que conhecemos utilizamos como estratégia que a via direta (procedimento ortográfico), as quais memorizamos a forma escrita, a representação acústica e o sentido. Esta via permite-nos passar rapidamente de uma análise visual de indícios a um tratamento lexical e semântico.

Para os indivíduos disléxicos, o problema reside na instalação dos sistemas neurais associados à leitura, uma vez que as estruturas anatómicas básicas estão intactas.

Os indivíduos disléxicos, quando leem, apresentam uma insuficiente ativação dos percursos neurais da região posterior do cérebro (sistema occipitotemporal, onde é guardada toda a informação relevante de uma palavra, o seu aspeto, o seu som e respetivo significado), considerada uma via mais rápida para a leitura proficiente. Consequentemente têm uma dificuldade inicial em analisar palavras e em transformar em sons.

Em todos os leitores proficientes é possível reconhecer um padrão consistente, seja qual for a idade: forte ativação da zona posterior do cérebro e menor ativação da zona anterior.

A intervenção precoce tem-se mostrado fundamental para minimizar o impacto da dislexia. Após avaliação competente, carece um programa de intervenção concebido e dirigido às dimensões alvo (e.g., consciência fonética, associação grafo-fonética, estratégias de leitura, aprendizagem multissensorial), que tem demonstrado resultados significativos comparativamente aos disléxicos sem intervenção.

Estudos revelam que, após um ano, crianças disléxicas que foram intervencionadas, começaram a usar o sistema posterior da leitura, menor ativação das vias auxiliares do lado direito (usadas anteriormente como estratégias de compensação); desenvolvimento de sistemas neurais situados no lado esquerdo do cérebro, que anteriores, quer posteriores.

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

AS EMOÇÕES SÃO UM TORMENTO, UM FARDO?…NADA DISSO.

O que seria a felicidade sem emoções? Quando procuramos a felicidade não se trata em primeiro lugar de encontrar um certo estado emocional? Inversamente, ser infeliz não é sentir-se atormentado ou abatido por emoções sombrias?

E depois, quantos erros cometidos “sob a influência da emoção”?! Mas também quantos outros evitados por termos sabido estar atentos às nossas emoções ,e às de outros…

A emoção pode ser entendida como uma reação de todo o nosso organismo, com componentes fisiológicas (o nosso corpo), cognitivas (a nossa mente) e comportamentais (as nossas ações). As emoções mergulham-nos na angústia ou no êxtase, acompanham e provocam por vezes tanto os nossos sucessos como os nossos fracassos. Não podemos negar a sua força e a sua influência nas nossas escolhas, nas nossas relações com os outros, ou na nossa saúde.

A arte está em moderar essa força!

Imagine um mundo em que se procura banir toda a emoção desagradável ou demasiado intensa (filmes já retrataram este cenário e também foi tema do livro de Aldous Huxley “O Admirável Mundo Novo”), inclusivé o amor. Se alguém se sentisse perturbado, frustrado, ciumento ou vagamente apaixonado – a solução estaria ao alcance de todos e bastaria tomar uma pílula mágica, que pôe a pessoa em “sofrimento” bem humorada sem diminuir as suas capacidades.

Se este medicamento estivesse disponível nas farmácias, de venda livre, que decisão tomaria?

Como seria a nossa vida num mundo como este? Que vantagens teríamos?

– Afastar o medo de falar em público ou declarar o que sente, com uma calma que maravilha os outros;

– Assistiria ao desaparecimento das cóleras explosivas que o levam a dizer coisas irreparáveis ou de cóleras recalcadas que o corroem por dentro;

– Perante o fracasso não sentiria tristeza nem desânimo, ficaria imperturbável!;

– Poderia ver o êxito dos outros sem inveja e viver numa relação sem ciúme;

– Não sentiria qualquer embaraço após um passo mal dado, nem vergonha das suas fraquezas, visíveis ou ocultas,

– Enterraria as palpitações, as lágrimas, dores de barriga e de cabeça, rubor e palidez, mãos húmidas ou trementes e outras manifestações somáticas;

– Não ficaria cego pelo amor ou pela alegria, nem cometeria mais erros “sob a influência da emoção”.


Depois de enumerados alguns benefícios, estaria disposto a tomar tal medicamento? Pense bem.

Os “efeitos secundários” em caso de uso prolongado seriam:

– Indiferença, desinteresse, inatividade, sensação de vazio;

– Comportamentos de risco para o próprio e para outros;

– Perturbações da memória e de apreciação;

– Dificuldades de relacionamento, comportamentos inapropriados com a sociedade;


Posto desta forma, esta pílula não parece assim tão apetecível, verdade?

Sem dúvida que a sua resposta dependerá da maneira como considera as suas emoções: inimigas, que o colocam em desvantagem…, ou aliadas, que lhe proporcionam energia…

Ariel Milton, Psicólogo

Founder & CEO PTSD Center

Membro da Comissão Científica do IV Congresso da Ordem dos Psicólogos; Acompanhado pelo Bastonário da OPP

NATO SOF Medical Research Workshop

Congresso de criminologia

Agressão, Guerra e PSPT

Apoio do PTSD Center - XI ENCONTRO DE PSICÓLOGOS DO SNS DO NORTE, 27fev21

Presidente da comissão organizadora das I Jornadas da Psicologia do HFAR-PP

Coordenador Científico, Docente

PTSD Workshop

Terapia de Exposição Prolongada

Voluntariado - Cruz Vermelha de Vila Nova de Gaia

Formação - vários